Distraídos pelo que nos é agradável, mas não é pecado.
- Gabriel Henrique Delfino
- 23 de jun. de 2017
- 5 min de leitura

Eu fui militar durante três anos, passei meu primeiro ano no quartel trabalhando na tesouraria e depois de passar quinze dias em um curso eu consegui me formar e me tornei policial da aeronáutica. Os dois anos seguintes eu trabalhei na companhia de polícia da aeronáutica. Durante esse dois anos eu fiz algumas missões que exigiam de mim muita atenção para que tudo ocorresse bem. Em uma dessas missões eu fui com mais três companheiros na casa de um militar que tinha cometido um furto no quartel e nossa missão era pegar o objeto furtado novamente. Eu era o motorista da viatura, eu precisava, então, de muita atenção no trânsito e em tudo mais ao meu redor. Quando parávamos nos sinaleiros eu era o responsável por observar tudo, até mesmo quem se aproximava da viatura pelo retrovisor. Eu precisava estar esperto para que não fossemos atacados, pois se eu não visse o perigo eu não conseguiria avisar meus amigos ou sair da situação de perigo com a viatura. Quando chegamos ao local, eu e outro soldado ficamos responsáveis por fazer a segurança da viatura enquanto os dois cabos entravam na residência e pegavam o objeto que havia sido furtado. Outro momento que exigiu de nós muita atenção, pois estávamos em local aberto, expostos a todo tipo de perigo e até mesmo a um ataque inesperado de tentativa de furto das nossas armas e viatura. Então não podíamos conversar - por mais que isso não fosse proibido - para não nos distrairmos da nossa missão: cuidar da viatura e das nossas vidas. O que eu quero mostrar com isso? Que nem tudo que não é proibido é bom. Ou seja, nem tudo que eu posso fazer me cabe fazer. Veja bem, se eu e o outro soldado resolvêssemos conversar e fossemos atacados, nós teríamos feito algo errado? Não, mas teríamos nos distraído da nossa missão. É exatamente isso que Paulo nos ensina em Efésios 4:14-15:
E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado, até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo. O propósito é que não sejamos mais como crianças, levados de um lado para outro pelas ondas, nem jogados para cá e para lá por todo vento de doutrina e pela astúcia e esperteza de homens que induzem ao erro. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo.
Quando Paulo fala “com o fim” ele está mostrando o propósito de cada ministério citado antes: cuidar da igreja para que ela cresça em conhecimento até que ela chegue à maturidade, atingindo a plenitude de Cristo. O propósito de cada ministério é edificar a igreja e fazê-la crescer no conhecimento do ansiado. É preparar a noiva para o casamento. Só que no meio dessa informação Paulo fala algo sobre “homens espertos que induzem ao erro”. Eu vejo esses exemplos de homens nos meus dias como homens criativos, espertos e audaciosos o suficiente para criar filmes, séries, redes de televisão e muito mais coisas que nos prendem ao que eles estão nos oferecendo. Coisas que não são erradas/pecado, mas muitas vezes não edificam e tiram o nosso tempo. Homens espertos o suficiente para roubar nosso tempo – que para mim é vida – sem nós nem mesmo percebermos. Homens que conseguem nos aprisionar no vício de uma série sem que façamos nada além de assistir aquilo e ansiar por aquilo. Eu sou um que se deixar fico dia e noite assistindo uma série, isso é muito agradável a mim. Mas será que é agradável a Deus? No capítulo cinco, versículo dez de Efésios Paulo nos diz: “e aprendam a discernir o que é agradável ao senhor”. Porque antes disso e depois de ter falado sobre os homens espertos ele começa a nos ensinar como deve ser nosso proceder. Outra coisa que ele diz é “não participem das obras infrutíferas das trevas”, por que será? Porque o pai é glorificado pelo fato de darmos MUITOS frutos (João 15:8). Sabe, o que eu quero dizer é: está faltando muita atenção na nossa missão. Nós estamos sendo distraídos facilmente e nem estamos percebendo, estamos deixando coisas agradáveis a nós nos manterem em um lugar raso em Deus. Eu não sei você, mas muitas vezes eu já pensei: ah, eu to tão cansado, tão estressado, meu dia foi horrível, então vou só ficar aqui assistindo Netflix – que não é pecado – que Deus não vai se importar se eu não orar hoje, ele sabe que é só hoje e que eu amo ele. Isso é uma mentira muito bem elaborada por um cara muito esperto e audacioso chamado satanás. Ele não é poderoso, mas é muito esperto e muito trabalhador. Ele não descansa do seu propósito e não deixa ninguém o atrapalhar na sua missão: fazer a igreja se perder em coisas agradáveis para si mesmas e perder a atenção na missão de conhecer e crescer em amor pelo ansiado. O inimigo está ao derredor rugindo como leão e aqueles que estão distraídos estão sendo engolidos sem nem perceber. Eu creio que é hora da igreja se espertar, orar e vigiar. Se nós entendermos que o Pai anseia por nós A TODO TEMPO no nosso lugar secreto nós não iremos mais gastar nosso tempo com coisas que são distrações e nem um pouco agradáveis a ele. Se nós aprendermos a ansiar por Deus como ele anseia por nós, jamais, nós iríamos ser pegos de surpresa. Nós temos que ser como sentinelas que não se distraem, compromissados, focados e que carregam o peso da responsabilidade do evangelho. Se você, como eu, em algum momento se perdeu e nem tinha percebido eu quero te mostrar o que Deus me mostrou hoje: “antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça” (Efésios 4:15). Essa é a resposta para uma geração envolvida pelas distrações dos homens espertos. Existe um Deus nos céus que revela todos os mistérios – Daniel 2:28 – e deseja nos ensinar em tudo para que a igreja dele seja edificada e tenha como foco o ansiado. Eu creio que Deus quer tomar todas as áreas que tomam nosso tempo e transformá-las em fonte de edificação. Eu creio que Deus quer levantar dramatúrgicos que irão criar roteiros para nos edificar enquanto passam nas nossas televisões. Pessoas que criarão séries que irão nos envolver na vontade de orar e ler a bíblia. Pessoas que criarão coisas que nos incentivarão no conhecimento do noivo, pois para isso ele designou cada um na sua função. Portanto, deixemos de lado tudo o que nos atrapalha e o pecado que se agarra firmemente em nós e continuemos a correr, sem desanimar, a corrida marcada para nós (Hebreus 12:1). Minha oração é que o Espírito Santo nos lembre que nem tudo que atrapalha é pecado, nos ensine a driblar essas coisas e nos dê criatividade para combatermos essas distrações com conteúdos edificantes.
- Que Deus continue nos abençoando.
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